quarta-feira, 17 de junho de 2015

A moda e a emancipação da mulher

Hoje, eu vim falar sobre um assunto que me interessa bastante e que a meu ver é pouco compreendido. Eu faço Pós-Graduação em moda e quase sempre que falo sobre isso sou encarada com um olhar de desprezo, por essa área ser vista como algo "fútil", por isso acho que a moda deve ser vista mais profundamente, para ser entendida como merece. 

Apesar de achar esse mundo fashion muito divertido, não é isso o que mais me encanta nessa história toda. Acredito que o que me faça ter "brilho nos olhos" por esse universo da moda, seja a forma como a história da sociedade pode ser contata por meio da história da moda (vestimenta).

Isso acontece de forma ainda mais expressiva em relação a mulher, porque existe uma associação histórica entre moda e feminilidade, ou seja, as mulheres são mais envolvidas com a moda do que os homens - o que as torna mais habilitadas para interpretar os "códigos" do vestuário (mas isso não nos interessa no momento), o que interessa é que a moda da mulher teve muito mais mudança ao longo dos anos do que a dos os homens - o que para mim se justifica não apenas por essa "histórica associação", mas também pelo histórico da mulher na sociedade, que passou por diversas mudanças, muito maiores do que as dos homens.

As mulheres sofrem discriminação em razão de seu gênero desde que o mundo é mundo e a moda sempre retratou essa situação. No final do século XIX, começo do século XX, por exemplo, a moda feminina era marcada por saias tão estreitas na barra que chegavam ao ponto de impedir passos maiores que cinco ou oito centímetros. 



No entanto, com a chegada da Primeira Guerra Mundial, surgiu a necessidade das mulheres encarem o trabalho, (sim, a maior participação da mulher fora do lar sempre esteve ligada ao afastamento do homem por motivo de guerras), nesse período, a moda tratou de se reinventar e liberar o corpo feminino do espartilho, que hoje em dia, a maioria de nós acha lindo, mas que seria completamente inviável para as atividades exigidas nas industrias, assim foram criadas roupas que permitiam movimento ao corpo feminino.



Todavia, após a Guerra, a moda se volta para um visual cheio de feminilidade, convidando a mulher à retornar ao lar e dar espaço novamente aos homens, já que o trabalho feminino sempre recebeu remuneração inferior ao do homem, o que era uma ameaça à eles. 

Depois da Segunda Guerra Mundial então, as saias volumosas e cintura marcada de Christian Dior exemplificam bem esse comportamento e marcaram época com muito luxo.



Mas, a partir dos anos 60 as mulheres foram ganhando mais força e a moda é claro, refletindo tudo isso, o que muitos lamentam até hoje, pois foi por meados nessa década que as saias chegaram à altura das coxas pela primeira vez (adoro!). 



Agora, chegou no ponto que dá o que falar hoje em dia, pois muitos acreditam que esse tipo de vestimenta feminina diz muito sobre o caráter da mulher (no mau sentido), mas que para mim é uma vitória das mulheres. Ao contrário do que o pensamento conservador prega, eu acredito que usar roupa curta ou decotão é um direito da mulher e que ao contrário do que os homens machistas pensam, elas geralmente não estão usando essas roupas pensando em vocês, porque acreditem, as mulheres não pensam apenas em homens, aliás, vêm aí uma notícia inédita: as mulheres pensam! hahaha! 




Voltando ao assunto... A sexualidade feminina sempre foi reprimida, todo mundo sabe que mulher de valor antigamente tinha casar virgem e os anos 70 foram marcados pela revolução sexual, foi quando pela primeira vez, as revistas femininas publicaram os nomes dos órgãos sexuais femininos (aleluia, irmão!). Para acompanhar, as roupas estavam mais desestruturadas do que nunca e uso de calça por mulher estava super em alta. 




Nos anos 80, depois de anos e anos de luta, com um forte apoio do Movimento Feminista, as mulheres finalmente conseguiram um espaço mais significativo no mercado de trabalho. A moda unissex, por sua vez, foi sendo consolidada: calça, blazers, jaquetas e smokings faziam parte do guarda-roupa feminino, além de claro, uma libertação geral, ou seja, toda aquela irreverência que marcou essa década. 






Deu para perceber? Se olhada mais profundamente, não é difícil perceber que a moda foi  um meio de resistência às fronteiras de gênero e se pensarmos na sociedade como um todo, a moda também funciona como um meio de busca por liberdade e igualdade. 

O jeans, por exemplo, não é a vestimenta mais confortável, mas é uma forma de celebração diária de igualdade e despolitização de forma geral, talvez esteja aí a resposta do sucesso dessa peça. 

Por fim, só quero dizer que roupas não são apenas roupas, mas as pessoas têm o direito de usar as roupas que quiserem e isso não dá direito à ninguém de fazer o que bem quiser. 

Em um próximo post pretendo falar mais sobre essa confusão em relação a liberdade da mulher de poder escolher suas roupas e a não liberdade dos outros de se sentirem no direito fazerem o que quiserem em razão delas. 

Por hoje é só! :)




            






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