quinta-feira, 29 de outubro de 2015

NÓS ESTAMOS FARTAS - CHEGA DE ASSÉDIO!

Os relatos das meninas contanto os primeiros casos de assédios que sofreram invadiram as redes sociais. O fato é que nunca se viu (eu nunca havia visto) tanta gente falando sobre violência contra a mulher como agora. Não acredito que estamos tendo mais casos do que antes, mas acredito que as redes sociais estão dando mais visibilidade para esse problema e encorajando todas nós a lutarmos contra isso, a gritar para o mundo todo ver que não é piada, é agressão e nós estamos fartas de ser agredidas.

Confesso que quando li os primeiros relatos, achei que era “sortuda”, pois não estava me lembrando de momentos em que sofri assédio sexual, além dos típicos, mas não menos lamentáveis, casos de assédios nas ruas, ou quando nos sentimos um bife no açougue quando passamos perto de uma rodinha masculina (isso não é legal). 

No entanto, não demorou muito para que eu me recordasse de vários deles. Eu não me lembrava, porque são daqueles abusos "sutis" que nos deixam desconfortável, mas não são considerados casos de polícia. O fato é que estamos quase “acostumadas” com esse tipo de situação, pois quando estamos saindo da infância e entrando na adolescência nossa mãe, tia, avó nos alertam dos perigos de uma moça andar na rua sozinha, nos pedem atenção, nos deixam preparadas (claro, querem nos proteger!), e isso nos faz pensar que mais cedo ou mais tarde, vamos passar por alguma situação constrangedora, como se isso fosse “normal”, então algumas vezes nem registramos esses acontecimentos.

Me lembro bem da primeira vez que senti medo na rua. Eu tinha aproximadamente 12 anos e estava indo para minha aula de ballet. Devia ser umas 16h, o dia estava bem claro e eu bem distraída, quando de repente um homem estranho saiu de trás de uma árvore, veio em minha direção e disse “que olhos bonitos você tem!” - poderia ser um elogio como qualquer outro, mas eu percebi no olhar dele, na forma como ele se aproximou e na voz, que não era. Não era coisa da minha cabeça – eu tinha 12 anos e ele estava me olhando como uma mulher. Eu fiquei tão assustada que sai correndo disparada até chegar ao ballet, quando cheguei, me senti meio boba por ter corrido em plena luz do dia, mas tinha me sentido ameaçada.

Tantas outras vezes, em shows e lugares com grande aglomeração de pessoas, alguns “garotos” se sentiram no direito de pegar nos meus cabelos e passar a mão em mim. Eu achava aquilo “normal”, pois já haviam me alertado que lugares cheios de gente são assim mesmo, era quase como se eu estivesse assinando um termo de consentimento quando ia a algum lugar assim, era como se fosse um acordo: “Quer ver o show de pertinho? Então aguente os meninos, eles são assim mesmo”.

Depois, com uns 14 anos, o marido de uma amiga da minha mãe começou a me dar beijos no rosto diferentes ao me cumprimentar, ele dava uns beijos melados, se aproximando da minha boca. Na primeira vez, achei que fosse sem querer, depois comecei a achar que não, “aquilo não era coisa da minha cabeça”, então comentei com uma amiga que tinha recebido um beijo do mesmo tipo desse mesmo homem. Contei para minha mãe que ficou furiosa e até brigou com a amiga que não acreditou quando ela contou sobre o acontecimento. Esse “senhor” parece constrangido quando me vê até hoje, o que eu acho ótimo, porque sim, são eles que devem se constranger e não as vítimas.

Com uns 15 anos fui em um churrasco em uma chácara com uma amiga e quando eu estava na beira da pia cortando um limão, um garoto passou por mim esfregando seu pênis na minha bunda – poucas vezes eu senti tanto nojo na minha vida, quanto naquele dia. Tenho nojo desse garoto até hoje.

Mais tarde, em um estágio da faculdade, meu chefe insistia em cumprimentar eu e minha amiga com beijinho no rosto (daqueles melados) e as mulheres mais velhas não. Ele passava a mão no meu cabelo de um jeito que me incomodava e me olhava de um jeito estranho. Nós, mulheres, sabemos quando tem segunda intensão, sabemos quando “não é coisa da nossa cabeça”. Eu não aguentei e larguei meu estágio antes de completar um ano, porque não suportava aquele homem.

Homens, pensem bem se algum dia vocês não foram algum desses babacas que eu citei no texto para alguma garota, porque isso tudo não é brincadeira e não é “normal”, é assédio e nós vamos fazer um escândalo!

Assista o vídeo “VAMOS FAZER UM ESCÂNDALO”, da maravilhosa Jout Jout: https://www.youtube.com/watch?v=0Maw7ibFhls

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Tema do ENEM 2015 = ESPERANÇA

Não tinha como eu deixar de falar sobre o tema da redação do ENEM 2015. Tivemos um ano marcado por discussões tristes, pautas absurdas e verdadeiros retrocessos, por isso, ver o tema "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira" é um grande motivo de comemoração. 

Um tema amplo, que pode ser explorado de diversas maneiras... É triste ainda estarmos longe de resolver o problema, mas é muito bom saber que pelo menos 7 milhões de pessoas pararam para refletir sobre isso ontem. 

Podemos pensar naquela conhecida e sofre/sofreu violência doméstica, naquela colega de trabalho que sofre violência psicológica por parte do marido e nem percebe, no Bolsonaro que agrediu a Maria do Rosário publicamente, na pequena Valentina, do MasterChef Júnior que está sofrendo assédio sexual virtualmente, em todas nós que já passamos por alguma situação de violência seja ela física, moral, psicológica, sexual, enfim, são inúmeras as situações e são por todas elas e por todas nós mulheres, que esse tema deve ser aplaudido. 





Além disso, a prova de Ciências Humanas trouxe uma citação de Simone de Beauvoir (morro de amores). 



É isso aí, estamos no caminho certo!